terça-feira, 4 de junho de 2013



“(…) Ninguém me iniciará sobre nada,
1º porque se trata de mim, e sei mais sobre mim do que qualquer outro,
2º porque exteriormente a mim não há mais que outros homens com ou sem eu
mas nenhuma natureza, nenhum cosmos, nenhuns princípios, nenhumas essências, nenhumas verdades gerais, nenhuns fundamentos universais de um ser das coisas, que não existe.
Nenhum homem tem, no plano da vida
e para se encontrar aí com outro, o porta-palavra de uma ideia, noção ou percepção comum.
De forma arbitrária se criaram sensações, sentimentos, emoções e noções chave para qualquer fechadura, perante os quais toda a gente acredita que se compreende e pensa a mesma coisa ao serem pronunciadas as palavras amor, honra, liberdade, verdade, quando afinal nada existe como as noções de amor, honra, liberdade ou verdade
para separarem tanto um homem de outro homem.
Por isso não acredito que haja um mundo oculto ou qualquer coisa de escondido no mundo, não acredito que existam sob o real aparente andares enterrados e refluídos de noções, percepções, realidades ou verdades.
Acredito que tudo, e sobretudo o essencial, sempre estiveram a descoberto e à superfície, e isso só foi ao fundo porque os homens não souberam e não quiseram dar-lhe o seu apoio.
E nada mais. (…)”



Carta a André Breton, in Eu, Antonin Artaud



Sem comentários: