segunda-feira, 13 de janeiro de 2014


Há um consolo para os que perdem: a maioria das vitórias são verdadeiras derrotas.



O tempo esgota-se e tanto mais quanto mais nos preocupamos com isso.


Eu, pela minha parte, desde sempre (que belo casamento!), fui fascinado pelo deslizar da areia na ampulheta que apenas é limitado pela  sua quantidade.


Hoje o dia ficou assinalado! (Que tal saberes o que quase toda a gente esquece ou quer esquecer?)


Junto aos pés fiz um risco. O que se passa para lá dele não me interessa, tenho a cabeça levantada, olho para além disso.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ainda


Não há soluções felizes quando o sonho e a realidade estão divorciados.

"O seu amor, a sua ternura, eram apenas um sonho. Mas valeria a pena aceitar sonhar um amor que queremos viver na realidade?", Simone de Beauvoir



quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Diário de um funcionário, a págs. 9, tomo 1/2014



Raramente os sonhos afloram a realidade. Como só neles vivo inteiro, fora e dentro de mim, tenho sempre da vida, da realidade, uma visão de porvir, de um caminho ainda por fazer. O passado são cinzas preste a desfazer-se no vento. Muito para fazer e ao mesmo tempo a sensação de que não vale a pena fazer nada. É o que sinto quando me assento. Mas o que fazemos transportamos connosco. Por isso escrevo. Para ganhar peso. E largar lastro.

No cinema, na leitura, abstraímo-nos ao ponto de esquecer onde estamos e estarmos num sítio diferente: viajamos: voamos. Será por pensar que a vida é uma viagem que estes estados têm tanta importância? Mas por outro lado estamos neles tão absortos que não estamos cá. E quando julgamos a vida uma viagem não é quando paramos para a pensar?

O que verdadeiramente me dana é a diferença entre o que é e o que sei ou imagino que poderia ser. Uma coisa é certa, que estamos e somos sós, e, que o máximo a que podemos aspirar é a (duas) solidões em uníssono.

O ódio é o reverso do amor. O avesso: coincide com ele ponto por ponto. Talvez isso explique a minha dificuldade em o sentir. O que me é fácil de sentir é o desprezo. E o seu reverso: a compaixão.

O amor sempre foi um passageiro clandestino. E o exílio sempre foi o seu destino. Desfiguraram-lhe o rosto, mas não deixou de ser quem era… Onde poderá encostar a face?

Oh, o trabalho que morrer dá!... (Os velhos tem uma certa cumplicidade: Sabem que a idade é uma ilusão num corpo que sabe que é uma realidade).




sexta-feira, 3 de janeiro de 2014


Penso muito nas mulheres da minha vida. Sobretudo nas últimas, porque há mais porquês e estes ainda estão frescos. Aprendi sempre com elas. A limpar a sanita depois de a usar, a dobrar sacos de plástico antes de os arrumar ou a planificar embalagens vazias de leite antes de as pôr no lixo, a ter a disciplina de acordar cedo ou a empilhar os pratos contra a parede no lava-louças. Mas há muito que não vivo uma paixão ardente, já que outras não existem. Dizem – disto não sei nada – que no amor também existe serenidade. Existirá ao mesmo tempo a ferida e a cura, pois no milagre tudo é possível! Penso assim porque não senti o espírito como corcéis à desfilada, o sangue não me toldou os olhos, o coração não rufou como um tambor, não fiquei com falta de ar nem sofria tonturas ao ficar sozinho, a exigência da carne não era avassaladora, as fúrias não me tomaram: não perdi a cabeça. Perdi, isso sim, um pouco mais de inocência, de confiança nos outros e de esperança. Fiquei na berma da baía a ver o vaivém da espuma das ondas, quase mera ondulação. O mar foi um lago, longe de ser um oceano. No amor só ganha quem se rende incondicionalmente. Senti-me traído como quem faz força, em conjunto mas em oposição com outro, para manter uma porta aberta ou fechada e encontra subitamente o vazio quando este desiste e a porta bate estrondosamente. Aprendi que a amizade não pode ser um sucedâneo do amor e que queriam, além do meu coração, a minha alma. Seria impossível sentir-me preso e livre ao mesmo tempo… Os primeiros amores perseguem-me e a viagem não tem fim…


Na mesa ao lado alguém escreve. Alguém escreve talvez histórias de amor enquanto penso no que W. Benjamin dizia sobre escrever os livros que não encontramos e de que gostamos ou que gostaríamos de ler, ou na Susan Sontag que se recriminava por se refugiar na leitura para evitar escrever. Disso já não me posso queixar,  já que cada vez consigo ler menos e o que leio, quando leio, é como se uma fugaz labareda me lambesse os olhos...



quinta-feira, 2 de janeiro de 2014



Durante muito tempo fui arquitecto: imaginei os outros. Mais tarde, muito mais tarde, encetei outra grande e verdadeira tarefa: imaginar-me a mim próprio. Os outros, conclui, cabem a deus.


A idade de um homem mede-se pelos mortos, e pelos mortos-vivos, que transporta às costas e na consciência. Um homem sem memória não tem idade. Mas aquele que tem memórias mas que as revê como se fossem fotografias de um álbum antigo, como que de um passado encerrado do qual perdeu a chave para o presente, esse é eterno. Fechou o cofre e deitou a chave fora. O caminho é mais leve com as algibeiras vazias. A presença é mais nítida na ausência.