quinta-feira, 31 de maio de 2012

Quem melhor desenha é o acaso
Há uma mão que escreve no fumo
Uma vontade na água que escorre
Uma certeza que é um projéctil
E por todos os lados,
fronteiras e exílios...
Que bonita manhã de Outono!
É impressionante pensar que todas (estas) pessoas, no seu íntimo, não têm idade. Tanto como pensar que todas vão morrer. Claro que todas têm a decadência à espreita, incontornável. Mas fora isso, todas têm a idade – o que é a idade? – que a sociedade lhes impõe e inculca. Daí o insólito de um velho vestido como um adolescente (caso cada vez mais frequente) o que, por outro lado, nos recorda o convencionado próprio da imagem, tal como o provérbio “o hábito faz o monge” sublinha. Também é aqui interessante notar os dois significados, e respectivas correlações, da palavra hábito.
Sabendo que o espírito é em grande parte destilado pelo corpo não sendo dele independente, podemos melhor com o seu carácter perene contemporizar se formos capazes de abdicar do prazer que mata (que só conseguimos gozar enquanto somos e formos imortais) renegociando o prazer e, situando esses episódios, estabelecer a nossa própria história.
 (a desenvolver)

horas perdidas

Não há paixão sem imaginação. O perigo que isso comporta!
A mentira é um desdobramento da personalidade. Se a isso não se pode fugir que o façamos artisticamente. Não esqueçamos que a arte é o reino da solidão completa. E quando se diz completa, diz-se que reúne tudo, nada mais restando. É o saber antigo: estamos sozinhos, mas não estamos sós quando estamos sozinhos. Por outro lado basta olhar à volta: tanta gente só, portanto aí também não estão sozinhos.

Kavafis (Junho de 1905)

Recebi a visita de um jovem poeta. É muito pobre, vive da sua produção literária e pareceu-me que sofria ao ver a boa casa onde moro, o meu criado que lhe trouxe um chá bem servido, a minha roupa feita num bom alfaiate. Disse-me: «É horrível ter de lutar para vencer na vida, ter de andar atrás dos assinantes da nossa revista, dos compradores do nosso livro.» Não quis que ele persistisse no seu erro e respondi-lhe com algumas palavras, mais ou menos estas: De facto, a sua situação era desagradável e dura, mas como saíam caros os meus luxos. Para conseguir tê-los, afastei-me da minha linha natural e converti-me num funcionário do Estado (que ridículo), gasto e perco por dia horas preciosas (às quais também somarei as de fadiga e desânimo que lhes sucedem). Que perda, que perda, que traição. Contudo, o pobre daquele rapaz nem uma hora perde; ali está ele, sempre fiel à sua vocação de filho da Arte. No meu trabalho quantas vezes tenho uma bela ideia, uma imagem requintada, como se fossem versos repentinos e acabados, e vejo-me obrigado a ignorá-los porque o dever não espera. Quando volto para casa e descanso um pouco tento recordar-me deles, mas foram-se embora para sempre. Com toda a justiça. Como se a Arte me dissesse: «Não sou escrava a quem possas dizer que vá embora, quando apareço, e volte a correr quando me queres. Sou a Senhora suprema do mundo. E se me expulsas – traidor abjecto – pela tua desprezível boa casa, pela tua desprezível boa roupa, pela tua desprezível boa posição social, contenta-te com isso (se realmente puderes fazê-lo) e com os escassos momentos em que apareço e estás preparado para me receber, à minha espera na porta, como todos os dias devias fazer.»
Nesta vida ninguém morre!
(...)

Cada golpe acorda os antigos,
levanta o pó dos anteriores.
Bebe os cálices até ao fim e
no meio do turbilhão,
Vai direito a ti:
não voes no mar, nem nades no ar! 
Seca os pântanos.
Há um continente 
à tua espera...
Onde o siêncio é uma lâmina,
que corta o que está a mais.




o despertar:
as dependências são metamórficas, hidras de mil caras...

O amor e o medo provocam os maiores cataclismos, e quando estão associados (  choque , perseguição,  rejeição ) desequilibram-nos completamente.

A ilusão embriaga!
(Sobretudo as que aninhamos no peito)
Mas o verdadeiro  éter...
Está no etéreo, um pouco mais alto,
E os ecos são degraus, a descer...
                    
(Ouvindo Bob Dylan pela manhã):

O doce sabor da liberdade, o oxigénio da imaginação....
Quantos ouvidos tem um homem que ter até conseguir ouvir o rumor do destino que se aproxima?
Quantas mortes temos que suportar até encontrar a vida?
Uma Paixão...

sexta-feira, 25 de maio de 2012


Todo aquele que abre um livro entra numa nuvem
ou para beber a água de um espelho
ou para se embriagar como um pássaro ingénuo

António Ramos Rosa

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Se há coisa que admiro é a contenção debaixo de fogo. Disparar só para acertar.
Em tudo o mais o silêncio prevalece.

sexta-feira, 4 de maio de 2012