terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O prazer da escrita


‘Escrevo só porque me ajuda a pensar’

Macedonio Fernandez


Durante dois ou três anos frequentei a mesma esplanada. Com o sol da manhã, o frio, até com a chuva forte fustigando o toldo. Criei raízes. Não precisava de encomendar o café. Ela – a patroa, a empregada – já sabia de antemão. Conhecia já os fregueses mais habituais. Ali passei, no conjunto, muitas horas, com os olhos no vazio enquanto procurava esta ou aquela palavra para a conduzir a este caderno. Uma prece matinal e quotidiana. Depois, respirava fundo, levantava-me e partia para o dia.
De repente, tudo se alterou e mudei de poiso, não de costume. E aqui estou. Mas aquele lugar, aquela esplanada com os fulgores de aqueles momentos moram e morrerão em mim quando eu também morrer.

Post-scriptum:
Aí esperei em vão que a musa encarnada se sentasse ao meu lado mas, por outro lado, obtive um ponto de apoio para a ave do pensamento poisar os pés nesse porto de abrigo.