‘Escrevo só
porque me ajuda a pensar’
Macedonio
Fernandez
Durante dois
ou três anos frequentei a mesma esplanada. Com o sol da manhã, o frio, até com
a chuva forte fustigando o toldo. Criei raízes. Não precisava de encomendar o
café. Ela – a patroa, a empregada – já sabia de antemão. Conhecia já os
fregueses mais habituais. Ali passei, no conjunto, muitas horas, com os olhos
no vazio enquanto procurava esta ou aquela palavra para a conduzir a este
caderno. Uma prece matinal e quotidiana. Depois, respirava fundo, levantava-me
e partia para o dia.
De repente,
tudo se alterou e mudei de poiso, não de costume. E aqui estou. Mas aquele
lugar, aquela esplanada com os fulgores de aqueles momentos moram e morrerão em
mim quando eu também morrer.
Post-scriptum:
Aí esperei
em vão que a musa encarnada se sentasse ao meu lado mas, por outro lado, obtive
um ponto de apoio para a ave do pensamento poisar os pés nesse porto de abrigo.