sexta-feira, 17 de julho de 2015


O silêncio para ser silêncio tem que ser completo.

Tenho que esquecer! Esquecer a confusão entre o detergente para tecidos delicados e a lixívia perfumada para a fixação de cores! …Eu já não vejo!  Insidioso, o esquecimento introduz-se de permeio entre os dedos que me orientam na acção…
O outro, o esquecimento libertador, que lava a culpa, alivia o peso do remorso e a sombra do erro, esse tarda em vir e assim se torna ainda mais penoso continuar.
Nenhum discurso se constrói sem que antes não se fixem os grafemas.
A velha gaiteira apanhada na saída da loja com os artigos roubados: que ar aliviado tinha quando ainda ofegante, com o brilho da adrenalina nos olhos após a terem deixado seguir, a vi no transporte público quando abandonávamos o grande armazém.

Falhar e rejubilar: não tenho a certeza se não foi uma mão mais certeira que escreveu o que aconteceu. 



quinta-feira, 16 de julho de 2015




O espaço e o tempo são indissociáveis: por exemplo, para atravessar uma avenida ou para cruzar um rio o impossível resolve-se através dos apoios intermédios (não há vão que se não transponha quando o subdividimos). E assim acontece com o tempo: é a única justificação para as datas.






quarta-feira, 1 de julho de 2015

1 Jul 15, qua


(nada está perdido)


Descobri, passados cinco anos, no fundo de uma antiga mochila um velho caderno que julgava perdido. Tive, quando dei pela sua perca, um enorme sobressalto, como se um pedaço de mim tivesse caído e ficado para trás na estrada ou alguém ou alguma coisa tivesse apagado definitivamente da minha mente e tornado irrecuperável a recordação de certos momentos, vitais como todos os que nela têm morada. Afinal, melhor que a projectada hipótese de reconstruir esses registos a partir do que pudesse lançar mão, o que acabei por nunca fazer, deparei-me com o mítico caderno passados cinco anos. O que posso aprender com isto? Intactos, os escassos pensamentos aí presentes: umas horas, uns momentos... a dose de eternidade a que me concedo o direito.
(Para quem está de fora quando estou dentro de mim estou fora do mundo, o que leva algumas boas e ingénuas a inquietar-se e a temer que esteja possuído por qualquer desgosto com a vida. Curiosamente é precisamente o contrário o que se passa: nunca estive tão vivo, nunca amei mais a vida do que nesses momentos em que me abismo nela).