segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
sábado, 22 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama,
de doces mãos irreprimíveis.
-- Sobre os meses, sonhando nas ultimas chuvas,
as casas encontram seu doce jeito de durar contra
a boca subtil, rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes --
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória,
e absorvente melancolia,
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
[....]
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
entre um incêndio,
junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
Herberto Helder, poesia toda 1
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Remontar a torrente.
Como conhecer uma cidade? Arranjar uma planta, subir ao ponto mais alto, escolher o melhor restaurante (Camillo Sitte). Uma receita que usei muitas vezes. O melhor restaurante? É o único item questionável, tanto podia ser a tasca com melhor vinho como a esplanada com melhor vista. As zonas onde a vida mais palpitava ou onde, pelo contrário, está adormecida atrás das ruas e becos desertos e onde um cão ou um gato perdido é o único sinal de vida e que nos recorda que ela continua para lá de uma vidraça ou da cortina que flambea e ondula nas horas solitárias.
As cidades são como as pessoas, todos os encontros serão marcados pelo primeiro.
As cidades são como as pessoas, todos os encontros serão marcados pelo primeiro.
Faço horas até subir ao apartamento que passa na avenida.
A luz já não dá para tirar fotos. Das pessoas apenas recolho as imagens. Algumas contam-me a sua história: olho-as demoradamente como quem lê todas as linhas do seu rosto. A maioria são fantasmas, incorpóreas, que se cruzam e atravessam como quem atravessa paredes, sem deixar rastro. Risos, recortes de conversas à margem ou outros, como eu, que apenas vêem desfilar os transeuntes. Quantos não têm o sem destino como destino? Seria tudo mais simples se parassem e apenas abanassem os pés suspensos dos muros onde estão sentados. Escurece.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
Cansaço.
Por vezes julgamos que é a memória a vitória sobre a morte e não o amor, mas a verdade é que também é necessário saber esquecer para podermos continuar a viver.
..................................
Claro que procurar esquecer é uma forma perversa de perpetuar a memória; o esquecimento só se obtém pela sobreposição da vida à memória.
Eu quero lá saber.... hoje é domingo, cinzento de cortar à faca, mas terno, de nuvens baixas que arrastam o seu manto de nevoeiro sobre a paisagem salpicada de gotículas de quase chuva. E os sons avivam-se na medida em que a vista se turva. Cansaço bom. Calmo. E os pássaros piam enquanto passa um veleiro sem velas.
O pensar e o sentir são como o jogo do rato e do gato.
Todos os dias sei de novas mortes, e enquanto pensava nisto repicou o sino como que sublinhando-o.
Escrever está-se a tornar compulsivo.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Quem deseja verdadeiramente alcança o que quer, o difícil é não ter dúvidas sobre o que deseja.
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Procuro em todas as (tuas) palavras o verso.
Sei que os sonhos não existem fora de mim e, imagino, de ti. (Imagino: já estou a sonhar, a sonhar que também sonhas). Mas não me convenço!
Seria tão mais fácil a vida se deixasse de sonhar... só quem não tem fé consegue acreditar. A adivinhação e a quimera são tormentos, mas as aspirações dizem muito sobre quem somos e sonha-se com o que se sentiu num tempo que há-de vir.
O material do sonho -- que é sempre além -- são os arquivos abismais do que se sentiu ou pensou nas regiões onde as duas coisas se confundem. Inclino-me a pensar que o sonho é uma desordem que ganha sentido no que somos e desejamos, se o formos capazes de interpretar. Reconhece-mo-nos nos nossos sonhos é ter as malas prontas para seguir viagem na vida. Nunca partimos definitivamente, estamos sempre de partida. Assim o sonho coincide com a vida, nunca é definitivo, e como a fénix renasce a cada instante. Não podemos prescindir dele, tal como a serpente da sua pele, que deixa sucessivamente pelo caminho. Se se encontrassem, o sonho e a realidade destruir-se-iam mutuamente: a realidade seria um sonho e o sonho, a realidade.
E tudo isto porque disseste que seria atroz termos a ousadia de viver o sonho.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Só somando água à água se pode empurrá-la...
Assim são os meus dias quando me ponho a pensar e a escrever. O pudor que tenho que vencer para evitar a literatura! Que alegria quando consigo pôr o pé na outra margem!
Ontem, numa diatribe contra o romantismo, dizia-me o Fernando Pessoa no seu Livro do Desassossego que a arte tem regras de criação, senão é apenas expressão de sentimentos; pois será, mas então essas regras são já uma obra de arte.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
A complexidade da vida...
Para compreender a vida é preciso ter um despojamento de quem está pronto para deixá-la. As pessoas vivem em mundos tão diferentes que é difícil imaginá-las no mesmo universo. Quão longe ou quão alto temos que estar para os abarcar!
Hoje tive essa vertigem e a amargura subiu-me pela alma como a água enche um tanque; apeteceu-me nadar para longe. Só a ternura pode flanquear as portas e as muralhas entre as pessoas e nunca teremos tempo, nem ocasião, de compreender esses muros. Compreender certas coisas quase equivale a desfazer-nos de nós próprios...
Hoje tive essa vertigem e a amargura subiu-me pela alma como a água enche um tanque; apeteceu-me nadar para longe. Só a ternura pode flanquear as portas e as muralhas entre as pessoas e nunca teremos tempo, nem ocasião, de compreender esses muros. Compreender certas coisas quase equivale a desfazer-nos de nós próprios...
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Tudo é tão precário, tão pouco fiável no mundo que eu quero estar de acordo com o que nele é imutável, e em mim, como seu eco.
Quem procura clarificações, como não ser claro?
Estou sempre à espera do acabou-se para seguir em frente, já que as ilusões me fazem perder tempo, me tolhem os pés, me fazem tropeçar a cada passo. O que não é para seguir que pare!
Construir ruínas à minha volta não é coisa porque anseie, acho mais límpido o deserto. E mais luminoso...
Com a mesma coragem com que te lanças, apara os golpes com que te recebem.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
domingo, 2 de dezembro de 2012
Factos reais não é uma expressão que nos deva espantar. O
mundo está cheio de memórias que nunca aconteceram. Acontecer é uma coisa que
tem a força da evidência da queda da chuva ou do secar ao sol das suas gotas. É
nessa ordem que me inscrevo, e comigo, tudo quanto tenho às costas. A
imaginação é muito poderosa, (que o digam os que morrem em delirium tremens, os que viajam no ácido ou
os que convivem serenamente com as suas alucinações…) e exige uma mão firme. Quando
é que nos sentaremos lado a lado? Num silêncio com mais páginas do que um livro…
Com quem mais gostava de falar, gostaria de estar em silêncio… Só aqui estou, e
estamos, uma vez. (E ninguém, para si mesmo, pensa nisto!). O que é mais
espantoso é o que não notamos por ser e se confundir com a paisagem do
dia-a-dia. E saber, como Arquimedes, que com um ponto de aplicação se pode
mover o mundo! Que raiva! Que fúria! …e que desconsolo! Não se poder eliminar o
se! Porque poder, podia, mas o mundo em que se pode é apenas o mundo não
dividido, no limite, não compartilhado. E aqui está resumido todo o drama!
Sinto-me sempre na primeira vez e não me canso, porque é
sempre diferente: a coragem é a palavra chave da vida.
sábado, 1 de dezembro de 2012
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