sexta-feira, 28 de abril de 2006

Soma

Não discuto se sou feliz ou não.
Mas de uma coisa faço por lembrar-me sempre:
que nessa grande soma -- a deles, que eu detesto --
de tantas e tantas parcelas, não sou
uma delas. Eu nunca foi contado
para a soma total. Esta alegria basta.

Constantino Cavafy, tradução de Jorge de Sena

terça-feira, 25 de abril de 2006

Escrevo na noite como quem risca fósforos

Crescer tem pouco a ver com ter juízo, ou então, terá, mas de outro juízo será.

Acreditar na vida até que irrompa o fogo sagrado nos olhos com o rigor da força unida à delicadeza.

O desenho é a volúpia que desliza... e sulca a superfície da aurora ao crepúsculo das coisas.

Escrever ajuda-me a viver, sim, claro, mas sobretudo este refinamento da alma é que a tempera e dá a luz à vida, (quanto ao resto... a arte de compor cala-me).
Oh! Como o mundo inteiro pode ser familiar!
Talvez a arte seja isto (e esta): Fazer-me familiar o mundo e alcandorar-me ao estado de graça!

sexta-feira, 21 de abril de 2006

(palavra-estalido)

Cada palavra é uma prancha de embarque.
Acabei de ler «José e os seus irmãos», de Thomas Mann: o espanto, o estupor, do monoteísmo; a vicissitude histórica de Akhenaton...
O plano de Deus: o plano propriamente dito e o plano... sinónimo de espaço... a imaginação faz-me viajar na história (e, às vezes, tenho a tentação de embarcar escolhendo apenas um dos cais da estação do Presente)

terça-feira, 11 de abril de 2006

Apostado em viver ávido de amor
Sentindo a doce memória de si mesmo sôfrego de beleza

Le Corbusier dizia que o que separa um mau de um bom arquitecto são poucos centímetros… (É assim para todos no que respeita à vida que merece ser vivida; é caso para dizer que poucos centímetros podem ser uma barreira intransponível!)

para os meus dois leitores





Oh! O mundo está outra vez perfeito!
Oh! O mundo rola novamente nos carris!...
(Esqueçamos quem ficou pelo caminho que até nos agradecerá o facto)
D'uma assentada: Fanny e Alexander, Pedro, o louco,As noites de Cabíria, O Evangelho segundo Mateus,Obssessioni, segundo parece, hoje, mais tarde, Teorema... é de «bravo! bravo!», bis, bis,palmas e aplausos...
(não te quero fazer inveja, claro, de certa forma nem posso...)
Quando estou de partida... não consigo sequer imaginar o regresso.
Semana Santa: nem estou em mim com a exaltação das epifânias...
Tenho tão certo o termo: e tenho que aguentar isto sem gritar!
Bom, já sabes, fazes cá falta
(mas compreendo que faças falta onde te encontres, o que é ser de eleição!): mas, atenção! devo avisar-te: o tempo, estranhamente, não parou desde que viraste a página do jornal! Já passaram seis meses, metade do prazo! (não leves a mal, porque a última coisa que quero é envenenar-te o tempo)
Ter coragem é ir ao fundo das coisas; e é tão fácil quando se descobre que é o caminho mais curto para elas...