Vivo este Agosto como vivo estes
tempos, placidamente, mas com uma calma tensa e a consciência que nada vai
durar, pressentindo o rebentar próximo da tempestade…
O calor amadurece o mundo. (Tudo
traz a morte no bojo).
Os sonhos desfazem-se em
quimeras, como se desejar o simples fosse uma ambição desmedida…
O fim resistir
Levantar o céu, levantar o véu,
desembaraçar-me as teias, mergulhar as mãos na imagem reflectida na água.
Partir, que afã
No verão tudo é carregado, as
cores e os odores. A fruta madura anuncia a colheita. Na sombra do apogeu germina
já a queda.
Episodicamente, intoxico-me com
os sonhos e deliro. Pela violência e frequência da febre reconheço a gravidade
do estado. Mas saber que se sonha já é estar acordado.
Com a incerteza do que virá (com
o terrível no horizonte) é cada vez mais comum o sentimento de viver o presente
sem futuro. Ora do dia-a-dia ao aqui e agora -- o velho abre-te sésamo! –
andamos, com a mais profunda angústia na alma, perigosamente com um pé no
sonhado.
A queda persegue o apogeu como a
sombra o segue.
[8 de Agosto de 2012]