sexta-feira, 23 de setembro de 2016


Estamos cada mais sozinhos mas temos que estar à altura das nossas memórias. 
estar à altura, tudo se resume a isto.
Quando morrer -- ao contrário do que diz a gaia ciência -- não morrerei sozinho: de certa forma, comigo vai uma multidão...


quarta-feira, 21 de setembro de 2016


É quase impossível não perceber que a vida é uma longa derrota!
Ao contrário do que supomos os sonhos não são uma janela aberta por onde a nossa alma sai a voar, mas sim um miradouro para dentro de nós.
Quero mirar-me e não me esquecer que sou quem fui e ter sempre presente a morte para onde vou. Que importa o medo? digo, repito, desde sempre.
Não se metam comigo.
A solidão mata e é por isso que temos que falar connosco.





quarta-feira, 7 de setembro de 2016

[á SR]


Todos temos um longe corredor pela frente e à medida que mais longe a vista alcança parece que mais estreito se torna, mas quando lá chegamos verificamos que se alargou tanto quanto o ponto donde partíramos.
Este corredor é cada vez mais comprido.

Pertenço ao lote daqueles de quem se diz não terem sorte. Os deuses só voaram em meu socorro quando tudo parecia perdido. Prossigo aprendendo com o que me acontece. A vida é uma aventura que deixei de viver por falta de hábito. Luto por perder a fé e as ilusões; os desejos desintegram-se pela dissecação. No limite, só se obtém o que se desdenha.

O Verão já ressequiu as folhas das tílias, o Outono não tardará.

Este corredor é cada vez mais comprido.




sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Não é quem está na berma da estrada que podemos considerar companheiros de marcha. E se formos desapaixonados veremos como engrossam tanto quantos nos contemplam à beira do caminho. A única companhia indispensável é a memória.
Já desisti. E não é deitar a toalha ao chão ou nele pousar o joelho com o cerviz curvado. Não!: -- pelo contrário! É arrumar as dúvidas. Esmagar as ilusões. É perceber que uma coisa são as coisas, outra as volições e demais intenções: Nevoeiros... Olhar, face a face, a luz , o sol... Não ir à procura das coisas mas perceber que à medida que vamos elas vêm (ou não) ter connosco. E que não vale a pena termos contemplações ou emoções quanto a isso.
Quando a nossa própria força se vira contra nós não basta desviá-la de nós mesmos, mas necessário também se torna aliviar a tensão e permitir que ela se dissipe.
Caso contrário, destrói-nos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016


Vivo este Agosto como vivo estes tempos, placidamente, mas com uma calma tensa e a consciência que nada vai durar, pressentindo o rebentar próximo da tempestade…
O calor amadurece o mundo. (Tudo traz a morte no bojo).
Os sonhos desfazem-se em quimeras, como se desejar o simples fosse uma ambição desmedida…
O fim resistir
Levantar o céu, levantar o véu, desembaraçar-me as teias, mergulhar as mãos na imagem reflectida na água. Partir, que afã
No verão tudo é carregado, as cores e os odores. A fruta madura anuncia a colheita. Na sombra do apogeu germina já a queda.
Episodicamente, intoxico-me com os sonhos e deliro. Pela violência e frequência da febre reconheço a gravidade do estado. Mas saber que se sonha já é estar acordado.
Com a incerteza do que virá (com o terrível no horizonte) é cada vez mais comum o sentimento de viver o presente sem futuro. Ora do dia-a-dia ao aqui e agora -- o velho abre-te sésamo! – andamos, com a mais profunda angústia na alma, perigosamente com um pé no sonhado.

A queda persegue o apogeu como a sombra o segue.

[8 de Agosto de 2012]