terça-feira, 28 de agosto de 2012

RÁDIO DESERTO!! Parabéns Vasco!

(não consigo pôr aqui o vídeo, ponho o link!)
Já devo ter dito isto mil vezes mas não receio o simples nem a repetição.
Uma das importâncias dos outros reside no facto de que é neles que nos vemos. São o que são, outros mundos ao lado do nosso, mas também são os espelhos que nos reflectem, que nos devolvem a imagem que também é a nossa. A nós, apenas nos imaginamos.
Não sou completamente refém de mim, pois se há alguém que adoro é a ti! (Será nessa medida que o amor é uma libertação?)
Isto quer dizer que a imaginação não tem limites. E sorrio.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012





[Passeio no campo]

Por vezes maravilho-me comigo, por me sentir vivo, tal como acontece com as brasas enterradas na cinza que, remexidas, incandescem e se incendeiam ao retomar contacto com o oxigénio do ar.

O som do sino perdura para além do toque.


Nem toda a gente merece a nossa espontaneidade. E essas pessoas, por mais brilhantes que sejam, retiram luz ao mundo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os deuses não abandonam quem se entrega completamente.


Onde estão os meus dias heróicos?
Onde, com os olhos rasos de lágrimas, parti ao encontro do meu destino.
Partir à aventura, sem mais horas do que eu, ponteiro, apontava.

A chave é partir... e estar sempre pronto a ir. Antes, ainda acreditava. Hoje, quero-me convencer que os sonhos só existem no sonhador. As distâncias são de muitas espécies e ainda que vençamos muitas, outras tantas correrão para o horizonte, como as ondas umas atrás das outras correndo não para a praia mas para o largo. Mas iremos pois que é o nosso destino, é lá que estamos. Tudo, como os doze trabalhos de Hércules, terá que ser enfrentado, não ao mesmo tempo mas sucessivamente e, atrevo-me a dize-lo, indefinidamente. Tudo é perecível, mas atrás de umas coisas outras vêm.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ainda está para vir, virá e não tardará! É necessário ser, evidentemente, um poço de energia inesgotável. Estancar a hemorragia e concentrar-nos no gume do momento. Só o amor nos pode salvar mas a começar pelo amor à vida. Quem anda no mar -- e todos somos náufragos -- não desperdiça nenhuma bóia. Tal como a água tem sempre a força para encontrar o seu caminho também a bóia nunca esquece o imperativo que é flutuar. É a coincidência entre vontade e destino.
A bóia é uma boa metáfora: mantém sempre o impulso enquanto for íntegra ou pela sua natureza, o que vai dar ao mesmo...

sábado, 18 de agosto de 2012

Passo, vejo uma cena e penso: "era uma boa fotografia!". Fotografar é querer apanhar o mundo com os olhos.
Ouço no rio, as sirenes dos barcos cegos no nevoeiro . Penso na minha musa: assim andamos nós, eu e ela...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O tempo flui continuamente, quem se fixa numa verdade e a considera a última palavra deixa de o acompanhar e envelhece.


Acabei de ouvir as cigarras. É o som que vos trago.
É o crepitar da paisagem.

Na minha rua, (porque todas são minhas), que vai dar à praceta que é uma espécie de Terreiro do Paço em que o Mar da Palha foi substituído por uma quinta real e a estátua de D. José por um pequeno espaço verde onde estão implantados quatro altos plátanos, e que é conformada por duas alas de prédios de cércea constante enquanto o piso se inclina vigorosamente, há nestes meados de Agosto um sossego e uma tranquilidade inusitadas. As janelas estarão quase todas com as cortinadas cerradas e sem vida e quanto muito penderá um lençol, mais além, agitando-se à leve brisa. Mas existe uma janela protegida por um vidro único, fixo, que faz dela um aquário. Aí, uma velha de cabelos brancos, sempre vestida de negro, perscruta os passantes. Mira-os como quem contempla um aquário, mas ela naquela moldura é que parece uma aparição.
E tudo na calma e no sossego dos feriados e dos dias santos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A liberdade talvez seja apenas poder escolher como e de quê queremos ser escravos.
Outra coisa é a liberdade para quem não tem nada a perder, mas aí é preciso redimi-la do desespero.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012



Na mesa ao lado lê-se poesia para uma roda de ouvintes. No passeio passa uma mãe e uma filha. 
São iguais só que sobre uma depositou-se o tempo.

Os velhos sentam-se à borda da enseada da vida.

O calor e os leques. A atracção dos véus, dos tules agitados pela brisa, dos pés descalços, das tiras e das peles acetinadas onde a fina película de suor espelha a luz.

O tempo anda mais lento. O branco é uma aparição que desenha mais que o negro.

Do rumor da multidão sobem e sobram risos e partículas de optimismo. 
Contam-se os anos como as matrículas dos cavalos de corrida.

Saudade da sombra, da água dos rios e do oceano. As respirações são ofegantes.

Tudo é agora.

O que se passa comigo, que é tão bom?

Vou-vos dizer adeus.

Tudo o que é dito são fórmulas mágicas.

O sentido não tem direcção. Cansou-se e estacou maravilhado.

terça-feira, 7 de agosto de 2012




A POESIA NÃO É (SÓ) POEMAS
“Os poetas não são deste mundo”

Joana Emídio Marques

(Artigo publicado no suplemento QI do DN)

domingo, 5 de agosto de 2012

As pombas puseram hoje a mesa.
Chagaram-me  notícias do mundo:
Dá tempo ao tempo, que tudo se arranjará...
(não sei se o amor chegará a tempo).
O perigo está onde se perde o medo e
é no conhecido que se encontra o novo.
O lânguido é o abandono que,
curiosamente, é a entrega.
O esplendor da decadência é
ver os destroços, mas
também o futuro em peças soltas.
Ah que glória estar capaz de abraçar a beleza!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Experimentar a doçura das manhãs de verão. Para quê a agitação da consulta dos mapas do dia se ainda contamos com a fresca brisa e as horas ainda se movem lentamente antes de o sol cair na vertical violentamente sobre nós?
Tudo é convidativo como sandálias para os pés e a caravana que nos submergirá ainda não se pôs em movimento. A beleza ainda mora na saúde e a juventude ainda procura os corpos. O céu azul ainda não é branco. Agitam-se suavemente as saias rodadas e brilham ao sol as gotas dos jactos de água.
Tudo está marcado mas desconhecemos a hora. Aproveitemos as áleas, os pincéis e as canetas. O dia está aí para nele nos internarmos.

O alvo partiu ao encontro da seta.













quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ferdinando Scianna
Pássaro com asa presa desespera de voar.
O tempo que se demora a ver o que é mais simples. Parece que nunca vemos o que está à nossa frente.
O que custa livrar-mo-nos daquilo de que nos queremos convencer.