quarta-feira, 31 de julho de 2013

sexta-feira, 26 de julho de 2013



Um raciocínio interrompido é uma machadada num regato.
A urgência deita fogo ao tempo.





 O dia quando finda cai sobre mim como uma salva de morteiro, sobe lentamente o firmamento, estala na abóbada celeste e ilumina a noite como a suave descida das estrelas cadentes do fogo de artifício.



domingo, 21 de julho de 2013




Ava Gardner, in Ipsilon

(…) "Querido, pode resumir a minha vida numa frase" (…) "Ela fez filmes, fez homens, e fez a vida num frangalho. Mas nunca fez compota."

(…) "Quem adivinharia que o momento alto do meu dia viria ser passear o cão?"




terça-feira, 16 de julho de 2013



Do que vejo retiro uma réstia de areia no outro lado, uma vela inclinada, as palmeiras imóveis recortadas contra o azul do mar, céu depositado na terra, apenas mais carregado e a outra hora. Eis um cargueiro que corta, deixando as dobras brancas, o mar brando com a majestade da carga de um elefante. Viajar, uma palavra que nos transporta. E nunca para tão longe como por dentro de nós.

Estou bloqueado, como num nevoeiro pegajoso.
Não se pode dar esperança a um náufrago a não ser que estejamos dispostos a morrer ou viver com ele.

(resta o que fica do outro lado da folha do papel)



domingo, 14 de julho de 2013

coisas sem importância




Há quem tenha tanto medo de olhar para o seu abismo e que sinta nisso tantas vertigens que queira reter o braço de quem pensa, como quem ampara quem corre o perigo de cair ao debruça-se sobre si mesmo!



quarta-feira, 10 de julho de 2013






Todos vivemos num mundo imaginário.
E no entanto, quem se aventura nele é visto como um exilado do real.


2 as coisas que me acontecem e em que nem eu acredito





Hoje li no FB um poema de Fernando Grade. Pois hoje mesmo recebi por mail a trigésima oitava remessa de poemas do próprio poeta! Não me lembro nada de ter falado com ele, ainda que a sua silhueta, conforme a fotografia que vi no seu blog para onde fui encaminhado pelo post do FB, me seja vagamente familiar. Há ainda outros indícios: na foto aparece encostado à guarda da via que emerge do túnel do Campo Grande, muito perto do local onde trabalhei muitos anos… mas ele ter o meu mail? Ainda por cima o endereço de  mail que uso apenas para assuntos laborais!!? Nesses tempos do Campo Grande havia uma livraria que frequentava muito… é, ou pode ser, mais um elemento do jogo.
Fiz depois uma pesquisa: tinha nos recônditos do correio electrónico mais duas remessas, salvo erro, a vigésima e a trigésima segunda… terei apagado alguma julgando ser lixo? Nunca o saberei… na minha vida há coisas estranhas! Para aumentar ainda mais a estranheza que tantas vezes me assalta quando páro para pensar…
Pode ser que a explicação venha ter comigo e tudo seja simples ou que o meu esquecimento se torne definitivo e tudo seja pela primeira vez…






O desespero é um porquê a bater a uma porta que não se abre.
O que move as coisas é o seu significado. E a recusa.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

1 histórias que me acontecem e em que até eu não acredito…



Hoje,estando na esplanada de um cafèzinho perto de minha casa, repousava num canto da mesa o livro que tinha escolhido por companhia. Era um livro que adquiri recentemente, do Mário Botas. Alguém passou apressado e, de esguelha, reparou no livro. Ainda que viva há décadas em Caxias, não conhecia o sujeito. De meia idade, pareceu-me. Sou mau juiz de idades, quer da minha quer da dos outros. Simpático e sóbrio. Estacou, e interpelou-me: 
-- Um livro de Mário Botas!? Posso ver?
-- Pois faça favor…
-- Sabe? É que eu conheci o Mário Botas! E até ofereci um livro dele ao Fellini, que o adorou…
Contei-lhe a história do lançamento onde tinha comprado o livro e quanto as recordações do Jaime Rocha tinham sido emotivas. Também lhe chamei a atenção para o facto da edição ser de poucos exemplares… sopesou o livro, fez-lhe correr as folhas, pareceu-me registar as suas etiquetas, agradeceu-me e murmurando: "Tenho que o encontrar…", foi-se embora.



Sonhei contigo



Sonhei contigo.
Sonhei-te.
És uma imagem que construí.
E todas as imagens que construo são feitas com reminiscências e antigos sonhos depositados no mais obscuro e profundo de mim. Mesmo que não correspondam à realidade -- como decerto não correspondem -- iluminam o mais fundo da minha alma e ajudam-me a compreender-me e aos meus anseios.
O terreno fica mais firme. 
E como eras terna e deliciosa!… 
Perdi as forças e esta paixão só se dissipará quando as recuperar.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

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Segue a tua estrela, nem que te diga que não há companhia no caminho.

Grandes artífices não serão forçosamente por isso grandes artistas. Pelo contrário, sujeitam-se à distracção, verdadeiro perigo para qualquer artista.

Espero minutos, horas, dias, semanas, meses e anos o momento para o empregar e me entregar ao desenho. Quem viveu agudamente o mundo sensível com a força do delírio tem dificuldade em se ajustar ao dia a dia da terra a terra. Em suportar o embotamento, que nos turva os olhos e enfraquece as pernas.

Faz, mais do que digas. Isso também se aplica à escrita.
Mais que reescrever (que é uma oportunidade de simplificar), desenvolver. E aperfeiçoar sempre.
“Penso por imagens”, diz Nabokov. Como a roda pedaleira elas fazem andar a bicicleta pela rua do pensamento.

Todos os rios vão dar ao mar. Da Arquitectura, apercebi-me que o estirador nunca é uma tábua rasa. Existem sempre as pré-existências. (Só nos afecta o que escolhemos).
E que dizer desta outra frase da arquitectura: o estilo é a vontade de forma?


Nada mais saudável que conhecer a loucura: é este o princípio de todas as vacinas.




quinta-feira, 4 de julho de 2013

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A tentação de pensarmos que os outros pensam como nós! Os outros também pensam, sentem e sofrem, mas à sua própria maneira.

"Viver é desviarmo-nos incessantemente. De tal maneira nos desviamos, que a confusão nos impede de saber do que nos estamos a desviar".
Franz Kafka

Há sempre mil e um motivo para nos desviarmos, mas o porquê de nos desviarmos é sempre o mesmo: (desviarmo-nos dos escolhos na corrente em que nos debatemos).



segunda-feira, 1 de julho de 2013

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Penso no meu retrato aos quatro anos: o rosto fechado, os olhos de medo e desafio.
(Tinha o terror dos fotógrafos que me queriam hierático, imóvel -- coisas que não compreendia -- e que entendia como uma ameaça…).
É o rosto que hoje usarei porque mergulhei na melancolia. Nessa deusa de pés nus que refresca as frontes a arder com incessantes panos frescos. Revejo velhos amores, quase… amadas, só sombras e instantes: temporadas! Quase sempre a noite, raramente a madrugada… O céu, abismo invertido, azul escuro de profundo, costumava estar carregado de estrelas. Esta noite só tem  uma. A fogueira onde ardem as recordações que tingiram para sempre a minha memória.
Instante permanente onde habito até à hora de saída.