domingo, 29 de julho de 2012

Agora tenho a certeza de ser correspondido; ser correspondido… isto é, de haver uma correspondência… fico feliz.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

É difícil, mas é o único caminho para a realidade. Assumir que os nossos fantasmas são só fantasmas, ainda que nos nossos sonhos os fantasmas sejam o trampolim para a realidade.
(Às vezes, os fantasmas têm tão bom gosto que até dói).

"Tudo o que é profundo precisa de uma máscara"
Nietzsche

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ah!... a sensação de ter os pés bem assentes nas tábuas do convés... ouvir o cordame ranger e o silvo da quilha a riscar a superfície da água... só o silêncio e as bátegas... enquanto nos inclinamos para o lado oposto à curva antes de mergulharmos nela...

segunda-feira, 23 de julho de 2012


A teoria só se completa depois de embater na realidade.
Macacos me mordam se isto não é um namoro, este ping-pong em que eu em vez de ser adivinhado, – como sempre pensei ser a minha ambição -, me ponho a adivinhar…
É claro que a poesia teve para mim sempre qualquer do inacessível, no contraste do rigor máximo na definição das coisas e da realidade e a infinita abertura por cada palavra ser uma tabela para outros mundos e ter asas para voar até ao mais fundo dos seus abismos. No inacessível reside o irresistível, e nele o suicida.
A isto se soma o interdito, o velado, que tudo incrementa e o desafio que representa manter o sangue frio numa relação tão calorosa que potencia a dimensão erótica.

Fim de tarde na esplanada. O sol fuzila-me entre dois chapéus-de-sol e sobre as altas copas das árvores a meia distância. O dia declina. Os risos entre as cervejas dum grupo animado. A paz do início do fim-de-semana, fim de uma rotina, início doutra. Tudo merece um quadro que nunca pintarei ou uma fotografia que não tirarei. Como um diário que é uma vida que nunca viveremos. Não é completamente verdade que o que não é não exista. A vida pode ser compreendida sem os seus fantasmas? É como dizer que uma linha, por não ser um volume, não o pode definir.
O corpo só se sente através da dor.
Tudo é tradução.



Abrir mão.

Deflagrações do corpo: paixões.

Partidas em falso.

O verdadeiro escalão, o verdadeiro escaler.


Num curto espaço de tempo, apaixonei-me duas vezes!

Definir o objecto dessas paixões é mais importante que os objectos em si. Sem qualquer desprimor, nem despeito (já que foram, como todas, paixões falhadas), pergunto-me o que eu vi nelas? Vi o que queria ver e é esse conhecimento que me pode ajudar a compreender o que sou e do que gosto, amálgama indissociável que me possa traduzir…

A exposição sem mediação deixa-nos à mercê de todos os ataques. Mas puxar o tapete é o contrário de atirar a toalha ao chão.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Num mundo sem valores, ou em que o único valor é o preço, é difícil fazer perceber a diferença entre preço e valor.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

(do gosto como apetite)
Tenho alguma dificuldade em saber do que gosto. Se é mesmo daquilo que gosto. Se gosto suficientemente daquilo para dizer que gosto. 
E a questão, não intelectual, é muito mais importante do que parece. Relaciona-se com o saber o que me apetece. Com decisões práticas que influenciam o meu grau de satisfação ou insatisfação no dia a dia. É uma  práxis.

(desconheço o autor da foto)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Alexander Calder, 130 - latão, cerâmica e corda

Ponho-me a pensar qual foi a última vez que a vida, futura, me pareceu simples. Cheguei a pensar que me bastava passear com uma máquina fotográfica na mão para me sentir feliz. Um caderno de apontamentos, como este, também ajudava. Haveria sempre aqueles momentos de retiro do mundo em que vejo muito mais do que o que contemplo, que perpassa por mim um desejo e em que por um instante fico suspenso de uma descoberta, fascinado e tomado por uma sensação de paz. Passear é essencial, e também de bicicleta: nesses momentos a roda pedaleira muda-se para o cérebro e lamento muitas vezes não ter o caderno à mão. Aqui chegado, divido-me entre a última vez que fui feliz e os momentos em que fiz projectos. Se calhar, coincidiram sensivelmente. Senti-me tão bem quando andava sem horas, estando só mas não sozinho, escrevia, desenhava, fotografava. Lia, passeava, ouvia música. Cheguei a pensar que tinha encontrado a chave. Deve ter sido aí que fiz a lista de projectos ...Que perdi!
(recordo-me ainda que mencionava os tubos de aguarela da Winsor & Newton, cuja paleta elementar me acompanhou num tempo tão intenso há tanto tempo, bem como blocos de desenho, etc…)

Raios partam a paixão e a forma insidiosa como se injecta nas veias!
E, tal como acontece ao alcoólico ao qual basta o acréscimo de uma gota no sangue para o manter no seu estado artificial que lhe é natural, assim ao apaixonado qualquer pormenor - por mais insignificante e prosaico que seja –, e que interprete como confirmação do seu sonho, é combustível suficiente para o manter a arder. Talvez quanto mais prosaico mais o inflame, talvez o seu instinto de conservação o incite ao reequilíbrio no seu estado de delírio, de que tem consciência. Digamos que anda, porque cai para a frente…

segunda-feira, 2 de julho de 2012


Que a fotografia sirva para reter, fixar, parar a marcha do tempo, parece-me uma ilusão. Por um lado, pelo contrário, afasta ainda mais na memória o que conserva tão vívido. Por outro, nada, mesmo nada é eterno. Talvez a eternidade. Mas a eternidade não é o contrário da morte, não é seguramente o arrancar dos ponteiros ao relógio ou se o for é também abrir um abismo no seu mostrador. O contrário da morte é a vida e quem a serve e é através da poesia que esse combate se trava.
Uma foto é um biombo: esconde mais do que mostra. Por isso, na prática, fecho os olhos no momento do disparo: se atirares no escuro e acertares é Deus que guia o tiro.