quinta-feira, 25 de agosto de 2005

novas (muito antigas)

É preciso ser preciso na mensagem que se leva aos outros. Uma coisa de cada vez; a coisa e o seu contrário -- como tanto gosto de transmitir -- confundem e despertam a ansiedade e a insegurança. É nesta assumpção de dar a conhecer o nosso querer, sem domínio ou agressividade, que está a chave da comunicação, tarefa tão difícil que por vezes nos parece impossível.

Aprendi a pôr na linha da frente dos pensamentos o viver com e pelo belo. Toda a volúpia comporta um certo excesso de riqueza; formas de riqueza, que também subjacem em todas as formas de diversidade. (É tão espantosa a relação, de antinomia?, de diversidade com adversidade! Tão estranha e prenhe de sentidos!)

As pessoas nunca nos perdoarão o não nos interessarmo-nos por elas.

Fazer-se de morto é um dos primeiros exercícios de sobrevivência; é preciso ter cuidado para que não se transforme num hábito.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Tenta a poesia; se calhar, não tens outro remédio... ela está por toda a parte!...

A idade respeitável:
Tudo o que se faça... já não altera nada!... (Que melodramático!...)
Tlim, tlim... está na hora de tomar decisões: Nada de paleativos, por favor!
(A alma pode bem com o golpe!... e já agora, com o galope...)
As horas voam...
Os dias fogem...
Os anos (que terrível...)
Confundem-se
As marcas do caminho incêndeiam-se como fósforos...
Os clarões do fogo-de artifício passam a palavra
Uns após outros
Na Noite,
A Memória escreve (para não se perder):
Não quer ser espoliada:
Dos fins de tarde...
Nem de tudo quanto possa vir a recordar!

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Da ordem do dia

(daqui não posso fugir)
Queres ou não queres?
Ganhar-me, é so disso que trata. Aqui, ali... sempre que um tempo tem um lugar. É isso que eu quero, ir para o sítio onde todas as paisagens são dignas de ser desenhadas... Recriar o grande tambor interno, (ouvir no cimo dos montes o Grande Pã...): a velocidade do sangue nas veias, o troar do coração e o seu eco na cabeça entre as mãos ou num qualquer desfiladeiro ou garganta... E, sobre tudo isto, como um nevoeiro que sobe do mar para a encosta e que faz distender desde o frondoso arvoredo até à mais humide das ervas, a inefável golfada de vida e de oxigénio, húmido, brilhante...
Nunca sabemos tão bem o quanto amamos a vida do que quando começamos a constatar que para a viver como ela a merece a teríamos que viver muitas e muitas vezes.
Queres ou não queres?(...este alguém só fala quando interpelado mas a sua voz altera, e é necessária.)

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

0

É muito depois do tiro... que chega o embate!
Cibernética (do grego), a arte de pilotar navios:
Só muito depois de rodar a roda do leme é que o navio começa a curvar...

1

Lamento não ser simpático...
Apetecia-me ter um saco de boxe ao canto da sala
Estou são, vivo, como só eu me sinto.... mas rodeado
de decripitude. Na cara,
Estampada, a falta de compaixão...
A compasso com a dureza da vida.
A vida é como o fio de uma
navalha: o resto são tretas,
(sei que tudo é efémero... mas
enquanto dura, é a eternidade)
Ai... as saudades que eu tenho do viço!
Gosto muito dos meus Irmãos,
Que não têm outro remédio senão
Suportar Tudo

Há lá mochila mais leve do que
Andar por conta própria!
(Não estou zangado com a vida)

2

Estes gajos ainda não perceberam:
Se pudessem, reformavam-se todos!
(É o próprio país que encarecidamente pede reforma!)

3

[o que nos separa dos árabes é o vinho]
É... senhor arquitecto para a direita..., senhor arquitecto para a esquerda, nos cafés, nos restaurantes....
(estão à rasca... é a crise sacanas!)

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

(...) Sólon, que procurava antes adaptar as leis às coisas do que as coisas às leis (...)
Plutarco

D' outros cadernos

Viver é imaginar o que acontece

(...)uma pureza metálica onde o mastro altíssimo recompõe sem cessar o desenho das nuvens, ...um autêntico barco de piratas: targa branca da proa, com o seu bico de espadarte, até a popa onde, projectada, dança a bandeira escura (...)
Vulcão di fogo: para um momento de ebulição dez mil anos de silêncio
(Ao meu cão)
Acompanhei-o até à entrada do corredor
Fiquei a vê-lo enquanto o percorria
Ao fundo, à esquina, voltou-se
Disse-me adeus com um olhar
E desapareceu
Era o Corredor da Morte:
Saiu para a planície das caçadas eternas...
(Não há liberdade sem violência)
(nem amor sem escândalo, com uma vénia a Natália Correia))
Nunca percebi se o «Não invoques o nome de Deus em vão» se referia ao homem ou ao Deus
Sem vontade de estilo
«Só os peixes mortos são levados na corrente»
(escrito numa parede)
As ondas com a cabeleira de espuma ao Sol!
Não te espantes. o troar do galope que ouves é o bater do teu coração!
Adeus terra firme!
O Ordenamento enguliu o Urbanismo sem o assimilar; hoje o Ambiente repete o salto com o Ordenamento: amanhã voltaremos ao princípio!
Obstinação: os heréticos são os que empurram o mundo...
Vale mais um princípio que mil formas
A luz confunde-se com a verdade.
Todavia a verdadeira luz é inconfundível.
A melhor forma de esquecer é lembrar
Como não ser fiel aos animais?:
A seu modo são a liberdade viva
«Não há bom vento para quem não tem porto»
Séneca

Entrelinhas

Listar é exorcizar.

Já é tempo de aparecer aqui a Arquitectura: aparecer... porque a Arquitectura é uma Aparição.
É um lugar geométrico (da Aritmética Racional), mágico; donde..., durante muito tempo... , a arquitectura foi a arquitectura religiosa
Outra e a mesma coisa é ser o desenho, a forma do mundo: do mundo que vai para onde o homem vai
A construção do mundo é a construção do homem: é isto que a arquitectura ensina. Uma civilização está toda contida na sua arquitectura, no entanto é sabido que o homem não se fabrica
Chega de falar de Arquitectura! Ela insidiosamente, irremediàvelmente irá aflorar entre as palavras, como a erva entre as pedras da calçada...
O Amor tem muitos apeadeiros mas o Verão é a sua verdadeira estação...

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

transversões


(MK, de 15 Nov ao início de Nov/04)
Não ter imaginação é uma forma de mutilação; por outro lado, cria uma espécie de chão firme para progredir...

Aproxima-se uma tempestade
Aproveita-a
A vida é um exílio
Há dias em que chegamos sempre quando o comboio acabou de partir
(fim dos escritos do Moleskine)

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

+ transcrições

(Mk, 4 Abr/05 a 15 Nov/04)

Se o tempo é dinheiro porquê é que quando temos tempo não temos dinheiro e quando temos dinheiro não temos tempo?

A razão porque não perdoamos a quem tem o seu próprio mundo é que são pessoas que nos demostram que o mundo não é apenas o nosso.

Só há um modo de ultrapassar o medo: é passar através dele. (é um modo de inteligência, a coragem é outra coisa)

A coruja levanta voo ao declinar da tarde, em Atenas
Fui espreitar o amor de verão de Bergman: todos tivemos a nossa estação inominável, raros o despertar do encantamento.
O Quase é o começo do Mito
O dia enlasguescia...
O Tempo devasta os corpos.
E o tempo mal vivido aprodece tudo o que toca
A imobilidade não é a primeira das opressões? O registo não é a imobilização? A fotografia não é o registo de algo que nos prendeu? É um ajuste de contas!
Depois do arco destendido a flecha não pode ser mudada de rumo: quando a bagagem é leve, a aventura está ao virar da esquina
do arco aberto das portas das casas demolidas
coada pela roupa estendida que esvoaça na brisa que passa
Noites, páteos antigos
Horas esquecidas
(a corça ruborizada)
A Morte é uma luz que se apaga... Ah! Manter a chama acesa!...
A ilusão pode ser pensar que somos mais do que nós próprios (o que isso nos afasta de nós mesmos!)
A palavra é um pássaro
O silêncio sufoca
Não há maior falta de rigor do que aplicá-lo ao que nada dele tem
Dizem que o bom senso é a coisa mais bem repartida do mundo: a razão, se bem que não bem, também está sempre repartida
Quem não escolhe é escolhido
Beckett:
Tanta conversa para conseguir emudecer: é de lhe tirar o chapéu!
Quem não se procura não se sonha
Metade das coisas não as queremos ver, outra metade não as podemos ver...
Procuramos um pouco e sai-nos tudo, queremos tudo e sai-nos um pouco
A pessoa é o indivíduo mais a sua consciência: coincidir comigo!
Se sabes... porque esqueces?

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

transcrições


Não me empurrem: já sei que se opta sempre, eu sei que o possível é tão improvável...

As nuvens de setas que passaram sobre as nossas cabeças, cairam à nossa frente e que ficaram para trás... (esta linha vai de nós ao horizonte que sempre, sempre se afasta dos nossos pés...)

Ah!... Fundar qualquer coisa!... («o que fica, são os poetas que o fundam...)

Quero crer que escolho tudo quanto me acontece.

A poesia antes de ser escrita soa (e ecoa) no espírito.

Está na cara das pessoas tudo quanto tenhamos capacidade de ler.

Os outros são só metade da história.

Uma língua é um passaporte.

Todos os dias tenho novos limites.

Escrever no escuro é mais rigoroso do que escrever na água e mais seguro que escrever na areia.

Somos a ponte que nos estendemos sobre o abismo: tropeçamos nas coisas da vida e lançamo-nos para as estrelas...

Temos que estar à altura do que desejamos. E antes da linguagem, eram as visões...
A embriaguês não expulsa de nós próprios uma parte de nós?

Eu vejo a morte vir ao meu encontro: Ah!... Mas começa a conquista do mundo por ti!
Ontem, fui imortal!

O conhecimento que tens do mundo é o veículo em que o percorres...

O meu Pai: o seu olhar, aquela única vista presente, é o reflexo de todo o mundo (como eu o verei desde sempre).

(...) eu nunca me enganei: o engano é a descrença no que pensamos.

(...) o limite é uma porta.

A verdade é sempre uma bissectriz.
(Mk, 1 Ago a 8 Abr/05)