sexta-feira, 31 de março de 2006

Obituário (de repente,estão a pregar-me sucessivas partidas...)

O velho Reis... atravessou a rua, fez-me um aceno: as recordações revoltas cruzam-se e misturam-se... Quero falar, mas não quero falar... um dia sentar-me-ei à minha beira e devagar, e baixinho, vou contar... vou contar os meus mortos. Ah! Velho Reis, o mundo ficou um deserto sem ti! (É pá, eu não quero falar!)

quarta-feira, 29 de março de 2006

o tempo

Só há uma maneira de esticá-lo, é aprofundá-lo!
Oh! Ver cada semblante como um portal ou, na melhor das hipóteses como um arco do triunfo!
O tempo v o a

terça-feira, 28 de março de 2006

fazer face

Oh Meu Deus, já estive muitas vezes no alto do monte! Ou… seriam meras colinas?
Penso frequentemente como vai ser a minha morte.
Um estalido? Um estampido!
A queda de uma folha seca?
De um fruto maduro?
Guloso!
O labirinto: o desafio, a escolha, a razão organizada atrás da escolha sob o risco do naufrágio, da enxurrada e da confusão…
A Confusão é a mais temível, mais do que o medo que já nos é tão familiar..
O amor e as coisas que vivemos…
Temos uma grande justificação para o que não aconteceu,
Viemos e fomos sòzinhos

segunda-feira, 27 de março de 2006

fazer face

É a mesma coisa que enfrentar; mas é muito mais giro e… polissémico: a fala (e até suspeito que o pensar), tem destas coisas…
E é por causa destas coisas que encalho ou me obceco, durante um período de tempo em que o dito está suspenso, com uma expressão ou palavra…
São coisas da ordem de ideias de aprender a navegar para evitar o esforço de levantar a vela da água ; ou aprender as maneiras à mesa seguindo à risca a racionalidade dos procedimentos e a abolição de qualquer tipo de ruído…
Nesta conformidade conclui naturalmente que a arquitectura era um ramo, que por vezes se confundia com o tronco, da chamada teoria do conhecimento… (o tautológico que é dizer a construção lógica da arquitectura!…)

quarta-feira, 22 de março de 2006

Os sonhos de fio a pavio

«Os sonhos são como os deuses. Esquecem-se, não se matam.»
Gracinha, a artista do Burlesco
[O desabrochar e o murchar dos sonhos]
Morremos com os nossos sonhos; morremos à medida que eles morrem e, ao mesmo tempo, acompanham-nos até à morte...
[Ao mesmo tempo]
O que tenho sonhado:
Sonhos, a vogar como castelos,
No próximo e alto céu,
Passam corcéis à desfilada.
A nuvem desaparece:
As nuvens voltam sempre.
Vou destilando sonho a
sonho a vida
e pingo a pingo
o escrito e o desenho.
Usar a mão
Não é só uma carícia
É passar a limpo
A vida
interfere sempre
De fio a pavio

sexta-feira, 17 de março de 2006

O que separa o inferno do paraíso é o que vai da coisa ao seu avesso ; é possível ver sem imaginar? Se assim for, afinal e ao contrário do que sempre se pensou, ver continua refém do olhar.
Ah… Wiggenstein!: «Quem vê os limites, vê sempre para além deles.»

quarta-feira, 15 de março de 2006

A neblina (depois será diferente)

A neblina está por toda a parte e ocupa toda a abóbada celeste empurrando o céu, tracejado por aves aos pares, contra a terra.

Quisera o convés dos poentes

terça-feira, 14 de março de 2006

Estar à altura

Ser livre é saber que temos uma vida ao nosso dispor.
(As que eu já tive e que recordo!)

Ando a correr para assentar uns pensamentos fugidios.

O futuro? Mas isso é uma abstração! Onde é que tens os pés, rapaz?

O medo é a única hipótese da euforia do heroísmo.
Ir ao encontro do meu medo!

O que é, é tão simples!
(depois deixo desenhos)

A mão e o livro lido

Tudo faz sentido quando tudo é o sentido.

Um momento é suficiente para reter e exigir toda a nossa atenção.

O calor desponta: os corpos exultam...
O mar é um líquido espesso derramado pela costa bordada de praias, cuja superfície lisa se enruga com a batida rítmica da onda periódica; por vezes, o espelho é rasgado pelo gume de uma proa que risca essa superfície: a cadência é idêntica aos traços deixados no altíssimo céu azul por um ponto alado em movimento ...

O solstício aproxima-se; hoje é meio-dia e a lua cheia está alta -- tudo é belo e frágil.

segunda-feira, 13 de março de 2006

Entra e não faças muito barulho...

O mecanismo que faz ser tão actual o pensamento de há 40 ou 50 anos é o mesmo que faz de um pensador um profeta.
Perceber:
«O quê? A eternidade!»
Estar:
Onde a vida merece ser vivida!
(A Primavera anunciou-se)
Claro que quero ser o que não consigo deixar de ser. Que estatuto! Turista. Turista mesmo, um livro fino, um bloco de papel sedoso, um máquina fotográfica leve e concisa, umas alpargatas rasteiras, uma brisa, um ar tépido, um azul celeste que reflicta o do mar, a montanha mágica…
Pára! Onde estás a ir? Onde te estás a esvair?

Bateu uma porta. É a realidade. Entra e não faças muito barulho…

sexta-feira, 10 de março de 2006

citações sobre «o choque de civilizações»


«(...) a noção de humanidade, englobando, sem distinção de raça ou de civilização, todas as formas da espécie humana, teve um aparecimento muito tardio e uma expansão limitada. ...(...) ... A humanidade acaba nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, por vezes mesmo, da aldeia; (...) enquanto os Espanhóis enviavam comissões de investigação para indagar se os indígenas possuíam ou não alma, estes útimos dedicavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros para verificarem através de uma vigilância prolongada se o cadáver daqueles estava, ou não, sujeito a putrefacção.»

Lévi-Strauss, in Raça e História