sábado, 23 de março de 2013



Contigo entrei no reino da poesia.
Já tinha desesperado de portas para o paraíso.

Viver... que palavra, que preocupação sem sentido para uma criança... tão preenchida com a vida e para quem essa é apenas uma questão esotérica que não faz parte do seu mundo luminoso. Elas é que sabem. Nós não fazemos mais do que tentar recuperar o que foi nosso. O paraíso perdido é o que procuramos. A recordação do mundo não fendido, a nossa entrega. E se era, se foi, o paraíso, não quer dizer que fosse isento de pesadelos. Os pesadelos eram do tamanho dos sonhos! Não!...  Os pesadelos lá estavam, mas só aguçaram o nosso insaciável apetite. A voracidade da nossa vontade. Ah!... a saudade e o sentimento de culpa dos velhos que olham a infância com uma ternura, uma nostalgia que só flagela ainda mais a carne trémula e a alma finalmente amolecida. Ah!... e não sabermos quando o saber podia torcer o destino! Mas tudo é simples: tudo, a que o excesso conduz, será o norte, tenhamos nós peito aberto e amplo para o receber. A terra ensopará toda a chuva que cair e se for vasta nada acontecerá que não seja o reverdecer quando o sol voltar a brilhar. Nas crianças, com tudo a crescer, não há tempo para mais nada. Mas o segredo que é o seu sortilégio é simples: elas e o seu mundo são inseparáveis. Ao contrário de nós, que nos refugiamos, ou que fugimos, para um compartimento do qual fechamos a porta. E, esquecidos onde está, passamos a vida à sua procura. 

(Procuro vertiginosamente esgotar as páginas do caderno; procuro o mais simples: sentir-me, e  sentir-me bem).





Sem comentários: