quarta-feira, 24 de outubro de 2012



SILÊNCIO

Íntimo das escuridões e dos toucadores
já tocado pela Voz
pelos sons interiores
da angústia dos passos
nocturnos e secos
selos da noite
selos comemorativos da morte
dos espelhos adolescentes


inocentes
que passamos os dias a preparar uma Cerimónia
de velas acesas
poemas já cegos
já sentidos
portanto penetro no Deserto decidido
e rogo aos céus
e às dunas à minha volta
Silêncio já !

SILÊNCIO SENTIDO !

Só o Silêncio faz sentido !
Só o Silêncio soa desmedido !
Como um eclipse antiquíssimo !

E a chuva cai no Silêncio da Terra
por muros e colunas sem fim !


 









do livro Juramentos, edições do interior, 1998


NAVEGADOR SOLITÁRIO

À partida
precisava também de um cronómetro
um instrumento de precisão
depois atravessei tranquilamente a baía
com brisa fraca
cortei como uma lâmina o rio primeiro
depois o mar
a passagem é tão bela.



Escolhi esta saída
esta paixão de resistência
e de audácia
a minha personalidade foi sendo revelada
à medida que os dias passavam
deslizei na água
claro, eu não era um marinheiro experimentado
era um solitário
procurando relatos
e o meu barco não é
um conjunto de madeiras pregos
quanto muito cordame
e velas fanáticas de ventos
de Mediterrâneos
de Longas Datas.

Para começar retomei os hábitos antigos
envolvi-me por uma bruma espessa
debruçei-me no passadiço
rumei como um paquete
profusamente iluminado na água.

Quando a situação se torna muito perigosa
recolho estas linhas à pressa !


do livro Cadernos do Interior, edições "O Pregão", Castelo de Vide, 1988



2 poemas do meu amigo Vasco

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