O silêncio pode ser uma barreira
entre nós e os outros e, escrever, uma alternativa ao falar. Até porque as
palavras alimentam o grande equívoco. Os momentos em que penso com a
caneta na mão, são-me tanto mais necessários quanto não vejo melhor forma de me
harmonizar com o mundo. É compulsiva a necessidade de me expressar, como se
jorrar para o mundo fosse a única forma de me circunscrever. De ganhar forma.
Como se, se não falasse, não escrevesse, não desenhasse, não fotografasse,
equivalesse a rebentar. E sempre, sempre na orla de mim próprio, estivesse o
mito do eco das flautas que reproduzem ao longe o coro que espalha que o príncipe
tem orelhas de burro.
Derramar-se no mundo e nele
perder-se é o destino de quem não se contém nas linhas que tece. Não abdicarei
dos meus sonhos, ainda que me levem à embriaguez e a loucura. Sei bem que é a
imaginação, esplendorosa e em quem não se pode confiar, que lhe fornece o
material com que são feitos. Mas também sei que em certas horas, nos locais
certos, o que se pode sonhar se pode viver. Apenas, por precaução, se devem
talhar os sonhos na realidade. E aí é que está a arte!
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