As Noites do Silêncio
Les Nuits du Silence
Outubro > Novembro 2012
Numa fascinante variação do
episódio homérico, Kafka, imagina que «as sereias possuem uma arma ainda
mais terrível que o canto, o silêncio. Podemos conceber, [...] que alguém tenha
escapado aos seus cânticos, mas seguramente jamais ao silêncio». Liberto por
Beckett, redefinido por John Cage, se o Silêncio se declina na pluralidade dos
silêncios habitados das palavras caladas, esperadas ou não pronunciadas, também
é singular, num poema murmurado ou numa frase musical cantada. O Silêncio marca
o compasso de um passeio, ritma um encontro inesperado. Resta que só impondo
silêncio ao que reduz ao silêncio a nossa existência, é que nasce o verbo
essencial. Improvável e fugaz, passagem obrigatória da testemunha antes de se
levantar e elevar a voz partilhando-a, o Silêncio luta para se fazer ouvir par
além do deserto, para não morrer no ruído e na fúria do universo psicótico e
vibra até à invenção do gesto [Maria de Morais, 2012].
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