Nada há de mais definitivo do que a morte! E as suas pegadas naquilo que chamamos vida e que não é senão um seu interregno.
Há que colaborar com a vida: não a tentar meter numa embalagem e deixá-la lá apodrecer… adivinhar a batida da hora, sentir o seu pulsar, ver a respiração no fluxo e refluxo das ondas. Compreendê-la para cumpri-la. Ironia amarga de quem a deixou sempre ultrapassar as suas expectativas… a vida adiantou-se-me sempre no tempo. Ela não admite o constrangimento de qualquer plano, é indiferente a qualquer projecto porque este corresponde a um tempo deferido. É inexorável e não concebe, nem concede, alternativas ou hipóteses. É o que é, e nada mais, nem o que foi, nem o que será. Não se compadece com sonhos, para mal dos meus pecados. Não perdoa traições: só quando nos entregamos totalmente a ela, e só a ela, nos dá tudo o que tem e é. Mas de alguma forma é tarde: para saber tudo isto tive que pagar o preço. E o preço foi em tempo de vida, irrecuperável!
Se quis tudo é claro que só podia ter um pouco de cada coisa.
Tenho cada vez mais a noção do inútil que é o arrependimento mas não deixo de pensar nele face ás desilusões que me trouxeram até onde estou. O prazer devia ter sido a estrada para a realização mas, com a ilusão que o difícil compensa, entreguei-me ao sacrifício e ao adiamento e estraguei tudo. (Chegado aqui, e para ser justo, também deverei dizer que cada um tem o seu tempo e o meu nunca bateu certo com quem eu quis). Mas continuando, assim se explica o arrependimento e o seu absurdo. Como não há hipótese de repetição, de aperfeiçoamento, existe sempre a tentação de varrer tudo da mesa, da tábua rasa, do recomeço. Nem que seja com o pouco que resta! Mas ai, que cansaço! Começar até no último minuto. Isto também quer dizer morrer a cada instante.
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