Remontar a torrente.
Como conhecer uma cidade? Arranjar uma planta, subir ao ponto mais alto, escolher o melhor restaurante (Camillo Sitte). Uma receita que usei muitas vezes. O melhor restaurante? É o único item questionável, tanto podia ser a tasca com melhor vinho como a esplanada com melhor vista. As zonas onde a vida mais palpitava ou onde, pelo contrário, está adormecida atrás das ruas e becos desertos e onde um cão ou um gato perdido é o único sinal de vida e que nos recorda que ela continua para lá de uma vidraça ou da cortina que flambea e ondula nas horas solitárias.
As cidades são como as pessoas, todos os encontros serão marcados pelo primeiro.
As cidades são como as pessoas, todos os encontros serão marcados pelo primeiro.
Faço horas até subir ao apartamento que passa na avenida.
A luz já não dá para tirar fotos. Das pessoas apenas recolho as imagens. Algumas contam-me a sua história: olho-as demoradamente como quem lê todas as linhas do seu rosto. A maioria são fantasmas, incorpóreas, que se cruzam e atravessam como quem atravessa paredes, sem deixar rastro. Risos, recortes de conversas à margem ou outros, como eu, que apenas vêem desfilar os transeuntes. Quantos não têm o sem destino como destino? Seria tudo mais simples se parassem e apenas abanassem os pés suspensos dos muros onde estão sentados. Escurece.
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