sábado, 16 de junho de 2012


O deserto é todo
Ele a imagem da perfeição
O vazio que inebria
A estepe íntima que corrói
O silêncio para sempre murado
Incandescente

Onde se desmoronam todas as casas vermelhas
De Marrakech, Djemaa-el-Fna se eu soubesse
Que noutras vidas vagueei por aqui
Se eu soubesse que havia há séculos
Um vento fresco à minha espera
Em Agadir
Se eu soubesse destas labaredas que subiam da noite
Se eu soubesse de Marrackech, Imozeur, Tiout, Taroudant...
Se eu soubesse da vida, da verdadeira vida
Cultivada como coisa breve mas eterna
Fruto raro e solar de um cacto
Arde-me na boca no estômago na alma
Inútil se eu soubesse por Agadir
Teria ficado
Se eu soubesse que Essaouira existia
Para além dum bilhete postal
Teria traficado o meu ser mas teria ficado
Mas teria sonhado
E teria esquecido !

Vasco Câmara Pestana