segunda-feira, 18 de julho de 2016




"Grande e Estimado R.!

Aqui estou eu a corresponder ao teu feito epistolar. Do Amor, não outras coisas senão bocas se podem mandar, já que tal coisa é coisa que só na febril imaginação toma e se torna corpo. À medida que se alarga o tempo decorrido após a perca da inocência apenas nos podemos maravilhar como nos pareceu tão real quando o vivemos. É assim um fenómeno que vive na memória; no presente é apenas angústia e incerteza: no futuro já há algum tempo que não acreditamos.

Afastando tais fantasmas e indo ao concreto, tropeço logo num esquema estrutural que me apresentas, qual andaime para trepar ao cume da narrativa: sinto-me vítima de vertigens e tenho dificuldade de respirar em tais paragens.

Acredito mais triângulos das bermudas (se acaso a história se passa no Verão), ou no sacrossanto amoroso; mas aí tendo mais, não para as relações biunívocas entre os seus vértices, mas para o binário em que fatalmente haverá alguém excluído. E isto remete-nos para o adultério que, como dizia outro amigo meu, está sempre na génese de uma separação na medida que é o surgimento do terceiro elemento que despoleta o desfecho e o fim da relação. (É claro que o tal adultério pode não passar de uma fantasia). 

Claro que a rotina mata a paixão -- mas ainda está por descobrir o fogo eterno, ou o motor imóvel da sua marcha.
(Dão-se Alvíssaras!)

O filólogo professor [do filme A academia das Musas], diz bem: o amor imaginado é o real. Mas não posso dizer afirmar tal coisa assim desassombradamente, sob o risco de ser um descrente dessa religião, embora continue a acreditar na alquimia sem grandes ilusões, finjo que acredito e chego mesmo a acreditar.
Tudo que é autêntico é real, sobretudo o que imaginamos.

Obrigado pelos Poemas.


[não te apoquentes pelo tempo passado na toca do F.]"

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