Raramente os sonhos afloram a realidade. Como só neles vivo
inteiro, fora e dentro de mim, tenho sempre da vida, da realidade, uma visão de
porvir, de um caminho ainda por fazer. O passado são cinzas preste a
desfazer-se no vento. Muito para fazer e ao mesmo tempo a sensação de que não
vale a pena fazer nada. É o que sinto quando me assento. Mas o que fazemos
transportamos connosco. Por isso escrevo. Para ganhar peso. E largar lastro.
No cinema, na leitura, abstraímo-nos ao ponto de esquecer
onde estamos e estarmos num sítio diferente: viajamos: voamos. Será por pensar
que a vida é uma viagem que estes estados têm tanta importância? Mas por outro
lado estamos neles tão absortos que não estamos cá. E quando julgamos a vida uma
viagem não é quando paramos para a pensar?
O que verdadeiramente me dana é a diferença entre o que é e
o que sei ou imagino que poderia ser. Uma coisa é certa, que estamos e somos sós,
e, que o máximo a que podemos aspirar é a (duas) solidões em uníssono.
O ódio é o reverso do amor. O avesso: coincide com ele ponto
por ponto. Talvez isso explique a minha dificuldade em o sentir. O que me é
fácil de sentir é o desprezo. E o seu reverso: a compaixão.
O amor sempre foi um passageiro clandestino. E o exílio
sempre foi o seu destino. Desfiguraram-lhe o rosto, mas não deixou de ser quem
era… Onde poderá encostar a face?
Oh, o trabalho que morrer dá!... (Os velhos tem uma certa
cumplicidade: Sabem que a idade é uma ilusão num corpo que sabe que é uma
realidade).
Sem comentários:
Enviar um comentário