domingo, 27 de janeiro de 2013




Encontrei-a titubeante à saída do comboio, no cais. Peguei-lhe no braço e disse-lhe: "eu levo-a". Agradeceu-me efusivamente. Fiquei ligeiramente surpreendido. Explicou-me que já lhe tinha acontecido cair da plataforma do cais para a linha. Só quem se lançou para o abismo de olhos fechados conhece a angustia desse mergulho... Via-a depois seguir, tropeçando nas mudanças de inclinação do piso e sujeitando-se ao apoio desajeitado de quem a guiava agarrando-lhe na bengala, e não na mão ou no braço, como quem leva um cão pela trela.
Quando se vai até ao fim, não fica nada, podemos sacudir as mãos, seguir em frente e nem olhar para trás. Apagaram-se as luzes, o cego respirou de alívio…

Cegos, Flautas no canavial

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