quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Passo ao lado de ruínas: casas, jardins. Há muito que o mundo se fragmenta. Regurgita lentamente e reconstitui-se num outro. Mas a beleza, Meu Deus! Onde ficou?

Diz Roland Barthes que a poesia japonesa tem sempre um referente temporal: a uma estação, a uma hora do dia, a uma atmosfera (a ventania, a queda de chuva ou de neve...). É essa necessidade premente que sinto: nunca o perigo do desnorteamento, da confusão, de perder o pé, foi maior. Os anos escorrem uns sobre os outros de tal forma que a noção de quando acaba um e começa o outro se perde. Os lugares transitam, mudam de sítio, perdem a ordem cronológica. 

É preciso fixá-los. Prender os acontecimentos ao calendário, interromper a desordem em que se transformou a vida.

(25Out22)

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