segunda-feira, 6 de junho de 2022

 Estes cadernos foram sempre uma fórmula de refrigério.

Um parêntesis feliz.

Agora que a exaustão provocada pela febril actividade da minha dispersão se acentua também se condensa a imperiosa necessidade da calma induzida pela reflexão.

Recordo com nostalgia os interregnos da rotina dos dias  e para a aguentar o registo do caudal dos pensamentos e sentimentos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

É com a morte que a vida se mede.
Quanto ao amor, ele é
a ilusão que é mais real
do que a realidade.

(16 de Dezembro de 2011)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

 elevador


Entrei no elevador vazio,
estava escrito na parede:
"Proibido a crianças, 
não acompanhadas de adultos"
E pensei:
"E os adultos 
que levam dentro de si
as crianças?"
Mais:
"Serão crianças os que sabem
o significado
de 'Proibido"?
O meu olhar percorre a linha do contorno da sua perna.
Sinto um arrepio.

sexta-feira, 8 de Março de 2013

 O tempo é elástico, muscular... quanto mais o usamos, mais se dilata... Ao ponto de podermos pensar que ele nada é, nem tem existência, a não ser a de um contentor de factos, de actos, de estados de espírito, de aquilo que fazemos... o passado nem sequer chega a ser tempo, é simples memória: um casarão no nosso cérebro, cujos corredores percorremos nas noites de insónia... o presente é um açude... e o futuro só é quando deixa de ser...

Evita o sonho.
O sonho que te sonhe.
Que te toque.
Que te acorde.


O sonho é renda espiritual que reveste o desejo. Quem conhece os sonhos identifica os desejos. Por isso, de certo modo, são bem concretos, mais duros do que uma parede, com a dureza dos muros de uma prisão. O sonho, quando ao serviço do desejo, deixa de ser uma ama para ser um carcereiro. Assim, deve-se evitar-lo, ou lançar-nos-à para o mais fundo da masmorra. Procure-se-o no exterior, entregue-mo-nos à realidade mesmo que na sua ausência ela nos pareça parca e pobre. Ela também não pode passar sem ele. E ele acabará por surgir nem que seja sob o manto de uma subtil serenidade, sob a forma de passos em estado de levitação. Não amordaçará a nossa voz mas fluirá nela. O sonho quando não se alicerça na realidade não é sonho, é pesadelo.

segunda-feira, 8 de Abril de 2013



Acordava e corria a abrir as persianas
A música de câmara realizava com o pipilar dos pássaros.

A admiração é a base de toda a relação.
O Assombro é outra coisa: acrescenta um mundo ao mundo.

A máxima liberdade coincide com a máxima solidão.
O imperativo da voz do rebanho instala e cala a revolta. 
Até ela estalar.

O desprendimento liberta; como que põe a flutuar
o iceberg solto do glaciar.

Aceita o inevitável;
poupa as forças para o que podes evitar.
Apoia-te no que faças.

terça-feira, 9 de Abril de 2013