sábado, 11 de maio de 2024

Em homenagem ao Ramiro

 

Faria hoje muitos, 
ou demasiados anos?

Nem sei ao certo. 

Abominava aniversários

particularmente o próprio.

Não admitia envelhecer 

não dizia quantos anos tinha 

nem quando os fazia. 

Como quem se trava e estaca

à beira do abismo.


O destino,

o outro nome de deus, 

fez-lhe a vontade.

Mal se apercebeu 

que caia num sono sem sonhos.

Ele, para quem 

viver era sonhar.


Nunca saberemos o que aconteceu 

o que sabemos 

é o que imaginamos.


segunda-feira, 25 de março de 2024

 Dia de aniversário da minha mãe.

Este caderno é bem o caderno da crise. Em dois anos não cheguei ao fim. Talvez por causa do fim de muitas outras coisas. Bem espremido, o que restará dele? 

Que saudades do tempo em que em pé, entalado na multidão, balançando-me de um lado para o outro no meio da mole ao ritmo da marcha do autocarro, procurava reter na mente uma frase, uma descoberta, até que a pudesse registar num caderno análogo a este e antes que se varesse da memória...

Já houve tempos em que estes cadernos me salvaram a vida. É caso para dizer que não basta estar vivo para se poder dizer que estamos a viver.